“Surgiram e acabaram logo (...) como se tivessem sido o brilho súbito de um quasar, uma suave explosão, um sonho irrepetível”, escreveu o jornalista Luiz Carlos Maciel no encarte do CD da série Dois Momentos que juntou os LPs dos Secos & Molhados de 1973 e 1974. O som do Secos & Molhados era resultado da bagagem musical do criador da banda, o português João Ricardo (violões, harmônica e voz), de Ney Matogrosso (voz) e Gerson Conrad (violões e voz). O rock era a referência principal, mas Ney levava um conhecimento de música brasileira que os outros não possuíam.
O primeiro LP, de 1973, com Ney e João (de barba) na frente, Gerson (de bigode) e Frias atrás: um sucesso como nunca havia sido visto no Brasil.
“O Vira”, do primeiro LP do Secos & Molhados (1973), da gravadora Continental, é uma das primeiras músicas que me lembro de ter ouvido na vida. Para mim, e para muitas crianças, a letra era lúdica e repleta de referências: remetia a histórias contadas pelos pais, fantasias, brincadeiras e cores. Os adultos ficaram fascinados pelo som e pelo visual dos músicos – e, também, pelos requebros de Ney Matogrosso, que despertaram a libido de muitas mulheres e homens. A aparição no programa de estréia do “Fantástico”, em setembro de 1973, transformou o Secos & Molhados em mania nacional: em apenas um mês, foram vendidas 300.000 cópias do LP de estréia – um número inimaginável numa época em que os LPs mais vendidos alcançavam 50.000 cópias por ano. Dez meses depois, a marca de um milhão estava prestes a ser superada.
O nome da banda era uma frase comumente vista nos empórios e mercados: para resumir a variedade de artigos à venda, muitos proprietários escreviam na fachada que vendiam “secos e molhados”. A famosa capa do LP de 1973 mostra Ney, João, Gerson e o baterista Marcelo Frias com as cabeças “servidas” em bandejas colocadas sobre uma mesa com garrafas de vinho, pães, batatas, cebolas, biscoitos e grãos – os tais “secos e molhados” encontrados nos empórios. Mas, quando o disco chegou às lojas, Frias já estava fora do grupo. Existem duas versões para sua saída. Uma: ele se recusava a usar maquiagem e seguir o visual dos outros integrantes. Outra: em dúvida quanto às perspectivas de sucesso do Secos & Molhados, o baterista teria preferido continuar a trabalhar por conta própria em vez de se comprometer em tempo integral com uma banda ainda não consagrada.
A dissolução do Secos & Molhados foi anunciada em agosto de 1974, um dia depois da apresentação do clipe de “Flores astrais” no “Fantástico”. Todo o esquema de divulgação do segundo LP foi desativado e o disco teve vendagem e execução pífias – ao menos se comparadas às do disco de estréia. Uma pena, pois era tão bom quanto o primeiro e prosseguia na linha de musicar poemas de artistas consagrados: “Tercer Mundo” (de Julio Cortazar), “Não: não digas nada” (de Fernando Pessoa) e “O hierofante” (de Oswald de Andrade) estavam ao lado de “Flores astrais”, “Medo mulato”, “Oh! Mulher infiel”, “Vôo”, “Angústia”, “O doce e o amargo”, “Preto velho” e “Delírio” – todas excelentes. O álbum tinha outras duas faixas. “Toada & Rock & Mambo & Tango & etc” era um protesto contra a censura, com Ney, João e Gerson sussurrando “Diga que não sei de nada/nem posso saber” ao som de guitarra, baixo, bateria e sanfona. “Caixinha de música do João” era uma instrumental acompanhada pelos “lá-lá-lás” de Ney.
(Vale mencionar o lançamento, em 1980, de um LP com o registro do histórico show do Secos & Molhados que lotou o Maracanãzinho em 1974. Infelizmente, a gravação é muito ruim: em vários momentos, as vozes dos cantores desaparecem ou são abafadas pelos instrumentos. Dispensável e nunca relançado, mas os vinis existentes são oferecidos a preços inacreditavelmente altos nos sebos e sites de compras.)
Secos e Molhados [1973]
A Volta dos Secos & Molhados (1978)
02. Lindeza
03. De Mim Pra Você
04. Minha Namorada
05. Anônimo Brasileiro
06. Última Lágrima
07. Insatisfação
08. Oh! Canção Vulgar
09. Como Eu, Como Tu
10. Quadro Negro
11. Cobra Coral Indiana
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Secos & Molhados (1980)
02. Roído de Amor
03. Meu Coração Não Pode Parar
04. Sem as Plumas, Numas
05. Homenzarrão
06. Pão João
07. Muitas Pessoas
08. Você Faz Amor Engraçado
09. Pelos Dois Cantos da Boca
10. Aja
11. Contudo
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A Volta do Gato Preto (1988)
02. Habitante da Guiné
03. Sangue de Barata
04. Eu Amo Dizer Te Amo
05. Aquém-Mar
06. Armadilhas com Vodu
07. Eu Estou Fugindo de Casa
08. Sonho de Valsa: Dancei
09. Estrábico-Democrático
10. Aventurar
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Teatro ? (1999)
02. Teatro?
03. O soldado e o Anjo
04. Bola de Berlim
05. Fios de Tempo
06. Zanzibar
07. Sida
08. Puta
09. Rosinha, a Vermelha
10. SMGBL
11. Louca de Pedra
12. Sacaneou Animal
13. Dura Aquilo que Passar Pelo Tempo que Durar
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Memória Velha (2000)
02. Foi Só Amor
03. Tom de Dó
04. Cantilena
05. Romântico Vício de Mel
06. Dura Aquilo que Passar pelo Tempo que Durar
07. Sangue de Barata
08. Sem Rei Nem Rock
09. Eu Amo Dizer Te Amo
10. Aventurar
11. Sonho de Valsa: Dancei
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